A falar na mesa redonda sobre exploração sexual, no âmbito da conferência promovida pelo Instituto de Apoio à Criança (IAC) sobre "Os direitos das crianças", Álvaro de Carvalho adiantou que a evolução dos abusadores sexuais "é tendencialmente crónica e semelhante com o que se passa na toxicodependência".."Alguns trabalhos mostram que há uma situação de perturbação da área obsessivo-compulsivo, em que há um sentimento de impossibilidade de resistir ao impulso e à compulsão", disse o diretor do programa nacional de saúde mental..Segundo o responsável, essa dificuldade que o abusador tem em resistir ao impulso, faz com que as situações de abuso sexual de crianças sejam "dificílimas de serem tratadas e muitas vezes impossíveis de serem tratadas"..Disse, por isso, que os psiquiatras ficam "muito preocupados" quando veem "algumas decisões judiciais em que aparentemente [os juízes] aceitam como boas as declarações de culpa ou de melhoria destes comportamentos".."Nós, os psis [psiquiatras], ficamos muito preocupado porque é uma situação tendencialmente crónica e recidivante, sobretudo em situações de abuso dirigidas a rapazes", explicou Álvaro de Carvalho..Já no que diz respeito ao tratamento, o psiquiatra adiantou que não existe nenhum até à data e defendeu que a castração química pouco resolve, já que não altera a líbido.."Apenas inibe a expressão a nível físico, a ereção no caso do homem, por isso é que a prisão em regra refina os abusadores porque ao estarem detidos cinco, seis anos, vão elaborando ao pormenor as situações em que vão intervir", alertou..Segundo o responsável, não há um perfil de personalidade típico, indicativo ou tendencialmente característico, mas mostrou que os abusadores sexuais são maioritariamente adultos, geralmente homens, com idade igual ou superior a 16 anos e com uma diferença de idade em comparação com a criança igual ou superior a cinco anos..O responsável adiantou que muitos realizam os abusos com recurso a ameaças, nomeadamente ameaça de morte, enquanto outros recorrem a técnicas mais elaboradas, como o casamento com a mãe da vítima..Quando adultos, tendem a escolher profissões que os associem a crianças - como professores, sacerdotes, treinadores, médicos - sentem empatia e afeto pelas crianças em geral, mas não pelo sofrimento que lhes causam..O procurador da Justiça Manuel Aires Magriço sugeriu, por seu lado, no âmbito da prevenção, um Plano Nacional de proteção das crianças contra a violência, à semelhança do que acontece com a violência doméstica..Aproveitou também para sugerir atitudes preventivas aos pais, como falar com o filho, tentar perceber quem são os amigos, deixar o computador na sala de estar, usar software de controlo parental e ensinar para os perigos..Já o fundador do projeto MiudosSegurosNa.Net, Tito de Morais sugeriu, ao nível da prevenção, uma abordagem regulamentar que criasse uma lei que tornasse obrigatório o ensino da prevenção do abuso sexual nas escolas, desde o pré-escolar até ao 12.º ano.